Escuta terapêutica é uma das coisas mais importantes para quem precisa ser escutada. Pode ser trivial, mas se você não tiver alguém para lhe escutar, o sofrimento pode se tornar solidão e problemas com ansiedade, temor e insegurança podem se agravar.
Por isso, convido você a entender como é relevante para sua vida ter uma pessoa que possa lhe escutar sem julgamento. Afinal de contas, conversar sobre suas questões é algo que precisa ter um ambiente acolhedor e seguro.
Resumo desta Postagem:
A sensação de ser invisível
Há momentos na vida em que sentimos como se ninguém estivesse realmente nos ouvindo, como se nossas palavras e sentimentos continuassem sendo esquecidos no vazio.
Essa sensação de invisibilidade emocional pode ser devastadora. Nesse contexto, o valor da escuta terapêutica se revela não apenas importante, mas vital.
Porque a expectativa de ser ouvida pode ser algo bastante comum. E isso está tudo bem.
Imagine a sua rotina já desgastante ser dividida com alguém que se importe. Neste aspecto, podemos pensar em amigos, familiares, conhecidos, mas o fato é que nem todos estão dispostos a ouvir.
A dinâmica do mundo contemporâneo
Essa é uma impressão minha. Sinto que vivemos um mundo com uma velocidade incrível. Hoje estamos conectados numa proporção que na década passada parecia coisa de ficção científica.
Para quem gosta de filosofia, o conceito de sociedade líquida de Zygmunt Bauman faz todo sentido atualmente. Com a pandemia, as conexões virtuais se tornaram parte de nossa dinâmica social.
Parece loucura, mas quanto mais estamos conectados, acabamos nos distanciando uns dos outros. Há, hoje em dia, familiares que moram no mesmo teto e não se falam por semanas. Rodeados de comunicação, mas sem se comunicar.
Esse contexto faz a gente também perder as conexões afetivas, amorosas, familiares. Vivemos em nossos casulo cada vez mais solitário. Não é engraçado pra muita gente, mas angustiante.
Nas relações afetivas, imagine um casal que está imerso nessa dinâmica de interação há muito tempo. Com certeza, sua capacidade de conversar acaba se diluindo em água, tal como hoje a sociedade líquida se comporta.
Suas questões pessoas ficam em sua mente como ecos. Você não tem com quem se abrir. Até porque, esse tipo de interação requer intimidade, segurança, confiança.
Construindo uma conversa saudável
No entanto, a escuta terapêutica sempre me mostrou que muitos clientes trazem a questão de não serem ouvidos. Por diversos motivos, acabam entrando numa dinâmica social ao qual fazem parte, seja em qual esfera for, mas não criam confiança ou intimidade para dividir suas questões.
Já tive cliente que não tinha com quem conversar mesmo questões triviais, trazendo esses papos soltos e saborosos para a sessão. O encontro era prazeroso, porque a pessoa se sentia mesmo com voz ativa e com acolhimento.
Nem sempre precisamos ter compromisso com alguma jornada terapêutica. Nem tudo precisa ser trabalhado numa sessão de terapia. Conversas são soltas, frouxas, como dizia o mestre Freud, por associação livre.
Nesse ponto, a escuta terapêutica também é uma grande aliada no processo de autoconhecimento. Isso faz tão bem para as pessoas que se torna uma rotina saudável. A análise se torna um processo natural e orgânica.
Conversas revelam questões muito íntimas
O psicanalista e filósofo francês Jacques Lacan enfatizava que a fala do paciente não é apenas uma ferramenta para expressar pensamentos e sentimentos, mas um meio de explorar e transformar o inconsciente.
Nesse sentido, a escuta é um instrumento poderoso para o processo analítico. Para Lacan, “O inconsciente é controlado como uma linguagem”, e é através da escuta cuidadosa e atenta que podemos acessar essa linguagem oculta e decifrar seus códigos.
É legal entender isso porque muitas pessoas acabam tendo ideias, refletindo questões, trazendo essa necessidade de fala como processo de racionalização de sua própria vida. Numa conversa, a reflexão sobre uma questão trivial vira uma oportunidade para ressignificar questões turvas, escondidas na sombra da personalidade.
Não é legal isso? Eu acho incrível!
Uma conversa saudável que transformou tudo
Carla (nome fictício) trouxe certa vez, numa de nossas sessões, que tinha passado a tarde com a sua mãe num passeio no centro da cidade. Já que a mãe estava a visitando, Carla separou um tempo para passar com a sua progenitora.
O passeio virou um inferno, mas só na cabeça da filha. Ela não externou suas questões com a mãe, mas estava possessa por não ter poder para escolher o roteiro do passeio, as lojas que paravam para ver vitrines ou mesmo o lanche na cafeteria.
A mãe escolheu tudo e nem perguntou, porque era ela que estava escolhendo tudo no passeio. Lá pelas tantas, Carla disse que ela era uma típica mãe catarinense. Eu tentei entender o que significava isso.
Carla se pôs a falar da cultura dos catarinenses do interior. Inclusive, da forma como as mães tratavam seus filhos. Ela era totalmente controlada pela mãe na infância, na adolescência, e no início de sua vida adulta.
Por que virei uma enfermeira? De repente, essa pergunta na escuta terapêutica
Carla, em outro encontro, acabou refletindo sobre essa pergunta. Por que ela tinha virado enfermeira. Sua profissão tinha sido condicionada a uma série de questões do contexto ao qual vivia.
Num determinado momento, ela chegou a conclusão que havia sido a mãe a escolher a sua profissão. Eu só ouvia e interagia com Carla. Ela chegou nessa conclusão.
Às vezes, entendo que as pessoas precisam falar para que possam se ouvir. Esse processo de reflexão com a voz ativa faz toda a diferença, não é mesmo?
Escuta terapêutica como validação
Quando estamos no processo de escuta terapêutica, é interessante como a pessoa precisa se ouvir para compreender o que se passa em sua mente. A elaboração é uma grande forma de compreender o que há temor em admitir.
A partir dessa materialização vocal, parece que o mundo se revela ante si e traz uma série de elaborações a serem feitas. Como se estivéssemos em validação, trazemos pensamentos e o tornamos real com a vocalização na escuta terapêutica.
A psicanalista Melanie Klein, em seu trabalho “A Psicanálise de Crianças”, reforça a importância da escuta na construção do vínculo terapêutico. Ela acreditava que, na medida em que os sentimentos do paciente são validados e compreendidos, ocorre o fortalecimento da relação terapêutica. Nesse sentido, a escuta é um ato de validação e reconhecimento.
Em termos científicos, a neurociência tem mostrado que a escuta terapêutica ativa certas partes do cérebro associadas à empatia e compreensão. Essa ativação pode contribuir para uma sensação de segurança, pertencimento e conexão, elementos fundamentais para o amadurecimento emocional.
Quem pode ser o agente da escuta terapêutica?
Certamente, é necessário ter técnica para realização da escuta terapêutica. Eu entendo que hoje em dia muitas pessoas se apropriam de dinâmicas psicanalíticas e distorcem a bel prazer, mas é preciso encontrar uma pessoa muito bem preparada para isso.
Serve qualquer tipo de escuta? A resposta é naturalmente negativa. Não se pode pensar que qualquer pessoa pode praticar a escuta terapêutica.
É imprensindível a formação técnica. Os psicanalistas são grandes profissionais preparados. Psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, mediadores em geral. No entanto, há de se ter cuidado para não confiar em pessoas despreparadas.
Como se estabelece essa escuta terapêutica?
A resposta é simples, embora não seja fácil: presença, paciência, e compaixão.
Presença para estar inteiramente no momento com o outro; paciência para permitir que o outro se expresse no seu próprio ritmo; e compaixão para acolher sem julgamentos como dores e alegrias compartilhadas.
Esses critérios são essenciais e convergem entre si. Por isso, vale a pena mesmo buscar referências e experiência na hora de procurar por escuta terapêutica.
Se você sente que ninguém está realmente ouvindo, lembre-se de que a terapia é um espaço onde sua voz é valorizada.
Na terapia, você será ouvido e compreendido – não apenas por uma pessoa, mas por um profissional treinado para a escuta ativa e compassiva. E, por fim, é importante lembrar que é através da escuta que a transformação acontece.
A escuta terapêutica é o início de uma jornada de autodescoberta e cura. Afinal, como afirmava Carl Rogers, “Quando alguém realmente escuta você, sem julgamento e sem querer tomar o controle, você pode ouvir a si mesmo.”
Quem é Isabela Falcon?
Isabela Falcon é psicanalista, consteladora e psicopedagoga de grande experiência. Já atendeu mais de 1000 clientes e hoje se dedica aos estudos psicanalíticos desenvolvendo a técnica da análise sistêmica.
Com grande experiência e inúmeros atendimentos com terapia psicanalítica, desde o início dos anos 2000, Isabela hoje traz abordagens singulares únicas com a Constelação Familiar como método racional e científico.
Isabela Falcon fala sobre a dificuldade de ter todos os dias um bom dia. Nem sempre é sobre isso e está tudo bem.
Sediada em Curitiba, Isabela Falcon também faz atendimentos em psicanálise e Constelação Familiar Online usando as ferramentas de interação virtual como WhatsApp e google meeting.
Com clientes em muitas partes do Brasil e do mundo, Isabela se torna uma grande referência em Constelações Familiares.
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